Bom Dia Brasil: A
gestão do senhor como prefeito de Sobral e como governador do Ceará teve
avanços na alfabetização, mas agora no Ministério esses desafios são muito
maiores. A tão prometida mudança no currículo do Ensino Médio, nos quatro anos
do primeiro governo Dilma, não avançou. O senhor pretende fazer em dois anos.
Como o senhor pretende fazer isso? Isso vai reduzir, de fato, um dos maiores
problemas do Ensino Médio, que é o de muitos estudantes que abandonam a escola
nessa etapa?
Ministro da Educação, Cid Gomes: Bom
dia Chico, bom dia Ana, bom dia Alexandre, bom dia. O Ensino Médio é, sem
dúvida, o setor da educação que tem os piores resultados e ainda tem um desafio
de acesso. Um percentual significativo de jovens estão fora da escola. O meu
papel, ao longo desse mandato como presidente (sic), é seguir orientações
da presidenta Dilma, que aponta para um compromisso de rever o currículo do
Ensino Médio. Esse é um dos caminhos. E acrescentar, na medida da proporção
possível dos recursos e dos orçamentos dos estados, porque o Ensino Médio é um
serviço prestado pelos estados, mais vagas de Ensino Médio. Mais vagas de
Ensino Médio em tempo integral. Esse será o nosso desafio, dialogando e
estimulando governadores a adotarem essas práticas.
Bom Dia Brasil: Ministro,
mas fala-se também de mudar o currículo do Ensino Médio. Isso é possível fazer
sem mexer no ciclo básico. O aluno tem chegado ao Ensino Médio com deficiências
muito grandes, muita gente sendo aprovada automaticamente pelo Brasil afora.
Cid Gomes: A
educação é um sistema integrado. Para que uma modalidade de ensino funcione
bem, a outra tem que ter cumprido a sua parte. Isso começa desde a creche,
passa pela pré-escola, vai pelo Ensino Fundamental. O processo de alfabetização
é fundamental, porque é a ferramenta básica da educação, e qualidade no Ensino
Fundamental. O Ensino Médio certamente repercutirá o bom andamento dessas fases
iniciais. Além desses problemas, nós temos que imaginar alternativas de, já no
Ensino Médio, você permitir aos jovens a possibilidade de currículos
diferenciados. Algumas disciplinas que sejam base do currículo e outras
disciplinas que possam ser opcionais, segundo já a vocação e o gosto de cada
estudante.
Bom Dia Brasil: Agora,
ministro, é lei e o Brasil vai ter que colocar, até o fim desse ano, todas as
crianças e adolescentes de 4 a 17 anos na escola. Um levantamento feito pelo
Estadão na semana passada mostrou que esse número chega a 2,9 millhões de
crianças. Como o senhor pretende fazer isso?
Cid Gomes: Cada
setor do ensino tem o seu desafio. No Ensino Fundamental, nós temos 98,4% das
crianças ou jovens na escola. Não é problema de oferta de vaga. O que há é uma
questão territorial, nas zonas rurais, haver um esforço redobrado para
universalizar. O ensino infantil, a modalidade que é exigência de
universalização, pré-escola, de 4 e 5 anos, nós já temos hoje algo em torno de
4 em cada 5 jovens. Então é razoável que, em um horizonte de médio prazo, isso
significa um mandato, a gente universalize. No Ensino Médio, há um grande
problema de abandono. Também no acesso, cinco sextos dos jovens está na escola.
Há um problema de manutenção da escola. Isso nos impõe uma estratégia de dar
mais qualidade à escola e implantar oferta nas áreas periféricas, mais pobres,
onde há indicadores de violência maior, o ensino em tempo integral.
Bom Dia Brasil: Ministro,
outro dia, mediando debate em São Paulo entre presidentes de grandes empresas
de todos os setores – indústria, comércio, serviço -, a principal queixa foi
que há uma falta de formação das pessoas, dos empregados, que mal leem e
entendem mal as instruções. E, com isso, a produtividade cai e cai a capacidade
de competir no mercado. Como que vai se resolver essa questão da qualidade para
formar, enfim, a pessoa para o trabalho.
Cid Gomes: O
governo, a presidenta Dilma, tem um projeto que é voltado especificamente para
essa área de formação para o trabalho, que é o Pronatec. Ao longo desses quatro
anos do primeiro mandato, oito milhões de brasileiros tiveram essa
possibilidade. E a meta que a presidente Dilma estipulou para esses próximos
quatro anos é de que a gente possa capacitar para o trabalho 12 milhões de
brasileiros. Isso não exclui a necessidade de a gente ter o ciclo básico,
Ensino Fundamental e Ensino Médio de boa qualidade. Isso permitirá um melhor
desempenho na capacitação para o trabalho.
Bom Dia Brasil: O
senhor de desempenho, que o senhor quer avaliar. O senhor falou no seu discurso
de posse que quer avaliar o desempenho dos professores. Agora, como fazer isso?
Primeiro, é inevitável falar nesse salário de R$ 1,6 mil. O senhor não conhece
nenhum assessor de político que está ganhando isso, todo mundo ganha mais do
que isso. O professor é que ganha pouco. Agora, como avaliar esse desempenho
sem envolver com isso sindicatos, que muitas vezes têm resistências? O senhor
sabe que eles têm muita força no governo do PT. Muitas vezes se opõem à
avaliação por avaliação. Como é que envolve sociedade, como é que envolve
família, como é que envolve todo mundo neste projeto? Senão fica mais um
discurso de que educação é fundamental, educação é prioridade, mas professor
continua ganhando mal, escola continua desaparelhada. Enfim, como vai avaliar
esse desempenho? Só cobrando os professores?
Cid Gomes: Olha
Chico, em educação é fundamental que a gente estabeleça metas, metas de acesso,
metas de regularidade, metas de aprendizado e avaliações permanentes. Eu, por
exemplo, pretendo fazer com que as avaliações, hoje feitas de dois em dois
anos, possam ser feitas anualmente. Isso a partir do nosso instituto, que é o
Inep, mas também muito em parceria com estados e municípios. É fundamental que
a gente coloque sempre que o papel do Governo Federal é um papel normativo, é
um papel regulativo, é um papel de estímulo, é um papel de ajudar no
financiamento, mas o Ensino Médio é feito pelos estados e o Ensino Fundamental
e Infantil é prestado, na sua maioria, pelos municípios. Então, tudo que for de
programa, que for implementado, seguindo a orientação da presidenta Dilma, eles
devem ter, como premissa fundamental, a voluntariedade. Não haverá nada
imposto, não haverá nada que não seja pela via do diálogo, pela via do
convencimento. Começando com diretores. É fundamental escola com bons
diretores, fazem diferença. Uma das áreas que nós pretendemos, com avaliações,
estimular os estados a adotarem e o Governo Federal poder ajudar no
financiamento, melhorar o salário, e na sequência fazer isso com professores.
Bom Dia Brasil: Falando
de avaliação...
Cid Gomes: Sempre
pensando que a adesão é voluntária, nada será imposto. Até porque o papel é do
município e do estado.
Bom Dia Brasil: Perdão
por interromper o senhor. Mas ainda falando nesse assunto, o senhor estava
falando do Inep e dessas avaliações que têm que ser feitas, na opinião do
senhor. O ex-ministro Fernando Haddad chegou a encomendar do Inep uma prova que
seria uma espécie de Enem dos professores e que poderia até substituir o
concurso tradicional em algumas prefeituras pequenas. É isso que o senhor pretende
fazer? O senhor pretende desengavetar uma proposta desse tipo?
Cid Gomes: Eu
sigo orientações. Todas as missões que tive até hoje eu era o chefe do
Executivo. Agora eu sou um auxiliar da presidente Dilma. Tenho que cumprir, em
primeiro lugar, compromissos que ela assumiu, que são muito claros: ampliar a
oferta de creches, ampliar a oferta de ensino em tempo integral, valorizar o
professor – ninguém faz educação sem valorizar os professores -, e fazer a
revisão do currículo do Ensino Médio. Traduzindo tudo isso, melhorando a
qualidade do ensino no nosso país. Qualquer ação que tenha por objetivo avaliar
professores, ela deverá ser feita por opção do professor, e aí deve-se imaginar
alternativas, estímulos que levem os professores a fazerem esse tipo de avaliação.
Uma delas pode ser essa já colocada pelo ex-ministro Haddad. Você, tendo um
professor passado por uma avaliação nacional, ele já fica com, vamos dizer
assim, um Enem, um passaporte para o ingresso no magistério de um município ou
de um estado.
Bom Dia Brasil: O
senhor falou em qualidade, e há muita queixa quanto a isso. O governo oferece
números, mas também há uma queixa de qualidade desde o Ensino Superior até o
Básico. As pessoas reclamam que falta qualidade para o professor, e a
consequência é que falta qualidade para o aluno. O ex-ministro da Educação
Cristovam Buarque me disse outro dia que dinheiro não é tudo, que dinheiro não
resolve. Que além do dinheiro, precisa de outra coisa. O que é necessário para
melhorar a qualidade, ministro?
Cid Gomes: Eu
disse isso uma vez, e quase me cruxificaram porque eu falei isso. Acho que no
serviço público, que atua no serviço público, seja um ministro, um vereador, um
médico ou um professor, tem que ter vocação. Tem que ter vocação. Isso é
fundamental.
Bom Dia Brasil: O
professor tem que nascer professor?
Cid Gomes: Lógico
que ninguém deve trabalhar de graça, as pessoas têm uma vida difícil e têm que
ter uma remuneração digna. No caso do magistério, O Brasil tem que avançar
muito para efetivamente dar aos professores uma boa remuneração. Só ratificando
com o que disse o ministro Cristovam: Sobral é uma cidade do semiárido
nordestino, com orçamento percapta bem inferior a muito municípios brasileiros,
e tem hoje um Ideb - fruto de políticas continuadas, foco, avaliação, metas
definidas – que não tem cinco municípios no Brasil com esse número. Nós estamos
com 7,8 no Ideb do quinto ano.
Bom Dia Brasil: Ministro,
o senhor citou essa declaração de 2011 em que o senhor falou que o professor
tem que trabalhar por amor, e não por dinheiro. O senhor como ministro agora
anunciou um aumento no piso salarial do professor. Agora como fazer que os
estados cumpram a lei que criou o piso para professor?
Cid Gomes: Bom,
primeiro vamos repor. Eu não disse que o professor tem que trabalhar por amor,
e não por dinheiro. É o contrário. Ou não é o contrário. O que eu disse é que
remuneração é fundamental, mas é principio básico, é pre-requisito para atuar
em todas as áreas públicas que se tenha vocação. O Mujica, ex-presidente do Uruguai,
disse agora uma coisa semelhante: quem quer ganhar dinheiro não vai para o
serviço público, não vai para a vida pública. Vai para a iniciativa privada,
que paga melhor. Isso foi o que eu falei e sou comprometido com a melhoria do
salário dos professores. Agora mesmo, nesta quarta-feira, devemos anunciar.
Poucos lugares não pagam o piso. Nós temos alguns problemas no Rio Grande do
Sul, por exemplo, por causa de uma carreira que está toda vinculada. E nós
vamos procurar, o ministério já vem fazendo um programa, um software para fazer
simulação de planos de cargos e carreiras em magistério, quer seja de um
município ou quer seja de um estado. Nós vamos procurar os magistérios para dar
ajuda, assessoria e enfim, o Ministério Público, a sociedade brasileira deve
cobrar judicialmente para que todos os entes públicos cubram o piso que deverá
ser anunciado agora nesta quarta-feira.
Bom Dia Brasil: Da
mesma maneira que se tem que avaliar o desempenho de professores, tem que se
avaliar o desempenho de secretários, de ministros. A sociedade tem que avaliar
e tem que cobrar, senão não dá certo.
Cid Gomes: Concordo.
Bom Dia Brasil: Obrigada
pela participação, ministro. Boa sorte.
Fonte: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2015/01/exclusivo-bom-dia-brasil-entrevista-novo-ministro-da-educacao.html
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